
A música é a mais bela das linguagens. Talvez isso soe estranho vindo de alguém que estudou Letras e dá aulas de Língua Portuguesa e Inglesa, e não de algum instrumento, mas a verdade é que não há o que me fascine mais que os acordes que se comunicam de forma universal, independentemente do idioma. Mesmo quando sequer compreendemos a letra de uma canção, é como se algo fosse dito para além das palavras, e é.
Assim como na história da humanidade, em nossas vidas, a música surge muito cedo. Ela aparece na mais tenra idade, cantada pela voz da mãe, acompanha-nos em programas de criança e é trilha sonora de cada aprendizado na Educação Infantil.
Por que a deixamos então? Eu não a deixo, e, por isso, teimo em aliar, quase cotidianamente, a música ao meu fazer pedagógico.
Utilizar recursos diversificados em sala de aula é essencial para o desenvolvimento de uma aprendizagem lúdica e global. No campo das linguagens, então, isso faz toda a diferença, já que o contato com o registro oral, o som, as artes e a mídia permite um olhar abrangente sobre a comunicação e sua manifestação social em diversas esferas e contextos. A música une vários desses aspectos, como a estrutura poética, a linguagem não-verbal ou as variações de registro. Não é à toa que as funções linguísticas e as musicais estão sediadas no mesmo lado do cérebro. Pensando nisso, aperto o play em sala de aula para interpretarmos textos e analisarmos figuras de linguagem. Recortando versos, apresento novas classes de palavras e funções sintáticas. Além disso, esse passa a ser um caminho para aguçar os sentidos e os sentimentos.

Culturalmente esse processo também é enriquecedor, porque permite o acesso a um inventário de artistas de várias épocas que, muitas vezes, os estudantes não reconhecem. Já me surpreendi com o fato de muitos não saberem quem é Tom Jobim e Chico Buarque ou não reconhecerem Milton Nascimento. Então, lhes apresentei.
No documentário Palavra (En)Cantada, José Miguel Wisnik, músico e professor da USP, afirma que “a música popular é uma ponte que junta as gerações que chegam e quando a gente vai ensinar literatura a música permite um contato com o repertório dos alunos”. Então, da mesma forma, os estudantes me mostraram coisas novas, como o MTG (com letras devidamente selecionadas para o ambiente escolar, é claro!) e compartilhamos o gosto pelo Rap.
Nessa troca, criamos o hábito de produzir textos com trilha sonora temática e de fazer exercícios ao som de playlists que ajudam no foco das turmas. Os benefícios da música, nesse sentido, são amplamente estudados, como no artigo “Música e Neurodesenvolvimento: em busca de uma poética musical inclusiva”, em que Mauro Muszkat¹ analisa a importância do uso e do ensino de música para o desenvolvimento do cérebro, principalmente na aprendizagem de crianças e adolescentes. Segundo ele, na adolescência, tal contato pode facilitar respostas emocionais positivas, diminuir o período de oscilação de humor e aumentar o engajamento em atividades de grupo e o compartilhamento de tarefas.
Nas canções, som e sentido coabitam e é possível ensinar com identificação, afeto, emoção e muito ritmo. Assim, passei a fazer composições para ajudar na compreensão de conceitos gramaticais ou para divertir os estudantes. Hoje, são raros os dias que não ouço “professora, tem música?” ou “canta pra gente?”, e sinto que, no meu pequeno palco, à frente do quadro branco, fazemos o nosso show. Cantando e memorizando conceitos, ampliamos a cultura, aprendemos poesia, e, talvez o mais importante, nós nos divertimos muito.
¹ Professor do programa de Educação e Saúde da Infância e Adolescência da Unifesp.
Por * Bárbara Luíza Vilaça dos Santos – Professora de Língua Portuguesa e Literatura 6º a 8º Ano
Respostas de 6
Parabéns, Bárbara!
Concordo demais com você! A música é a mais bela das linguagens! Fala direto ao coração!
Fiquei encantada com seu trabalho, onde sons e afetos andam juntos e atraem o aprendizado de seus alunos com emoção e ritmo. Parabéns pela criatividade! 👏 👏👏
A Barbara expressa com o coração. É nítido seu amor pela profissao , como também para as demais ramificações da Arte , que compõe e dão vida às inovações necessárias! A música está muito além do nosso campo de conhecimento . A mim , como muitos , nos salva , de todo caus.
( E auxiliam aqueles que sofrem com os desafios de foco , memorização , dentre outras dificuldades na aprendizagem ).
Compreendo e me identifico com as palavras de Bárbara, a comunicação, por meio da música, não se prende às palavras, ela fala conosco em linguagens múltiplas que os sentidos absorvem. Talvez, por isso, a Bárbara tenha em seus alunos parceiros interessados, divertidos e felizes. Ainda bem que ela se diverte ensinando. Parabéns pelo texto.
Texto lindo!
Bárbara,
Parabéns pelo texto de excelente nível. Nada melhor do que fazer cultura com sensibilidade e poesia. Hoje tem música?
Sucesso!
Bárbara,
Parabéns pela sensibilidade. Um belo texto. Nada melhor do que poder fazer cultura cantando à vida!
Hoje tem música? Sucesso!