EXPLORANDO AS ADAPTAÇÕES DAS PLANTAS

UMA ABORDAGEM DINÂMICA PARA O ENSINO DE BOTÂNICA


Ensinar botânica aos alunos pode ser um grande desafio, principalmente por conta da chamada “cegueira botânica”, como mencionada por Wandersee e Schussler (1999), um fenômeno em que as pessoas têm dificuldade em perceber a importância das plantas no cotidiano e no ecossistema. Com essa desconexão, muitas vezes os alunos se desinteressam pela matéria. No entanto, experiências práticas e o contato direto com a natureza podem ser ferramentas poderosas para despertar a curiosidade e o envolvimento dos estudantes.

Para abordar o tema das adaptações das plantas de forma mais envolvente, foi proposta uma atividade com a turma do 8º Ano em que os alunos começaram aprendendo sobre os diferentes modos de reprodução vegetal e suas adaptações específicas. Nesse momento inicial, foram apresentados conceitos como a reprodução sexuada, em que flores dependem de polinizadores, e a reprodução assexuada, em que as plantas podem se multiplicar sem a necessidade de sementes. Também foram exploradas as diversas estratégias que as plantas desenvolveram ao longo do tempo para garantir o sucesso na reprodução, seja por meio da polinização pelo vento, insetos ou outros animais.

O estudo dessas adaptações ficou ainda mais interessante quando os alunos foram convidados a sair da sala de aula e observar, na prática, algumas das estruturas vegetais responsáveis por esses processos. Eles foram incentivados a coletar diferentes partes das plantas, como folhas, frutos, sementes e flores, para analisá-las e relacioná-las às suas funções no ciclo de vida das plantas.

O ponto alto da atividade foi a observação detalhada de uma flor, onde os alunos puderam identificar as adaptações reprodutivas que ela possui. A flor de hibisco, por exemplo, foi estudada por suas muitas anteras (parte masculina), que aumentam a produção de pólen, e por seu estigma (parte feminina) elevado, que facilita a recepção do pólen transportado pelo vento ou por insetos. Essas observações ajudaram a entender como as plantas otimizam seus mecanismos de polinização e asseguram o sucesso reprodutivo. Outro exemplo fascinante foi o das orquídeas, que muitas vezes imitam a aparência de insetos para atrair polinizadores, um exemplo claro de mimetismo que despertou a curiosidade dos alunos sobre a complexidade das interações ecológicas.

Segundo a aluna Suzana: “A atividade sobre as angiospermas foi muito boa para a gente descobrir e entender sobre o que foi passado de teoria na sala de aula… colocando a mão na massa ficou mais fácil de entender.” E segundo o aluno Davi Sousa: “Foi uma atividade muito legal e deu certinho para ver as partes da flor que antes eu nem sabia que existiam.”

A atividade não se restringiu ao estudo da reprodução vegetal. Para explorar ainda mais o ciclo de vida das plantas, os alunos participaram de uma visita a uma fazenda urbana, o BeGreen. Neste ambiente, puderam observar como as plantas se nutrem e como o cultivo é realizado. Técnicas como a irrigação, o uso de compostagem e o manejo adequado do solo foram observadas de perto, mostrando como esses fatores influenciam diretamente na saúde e no crescimento das plantas. Essa experiência prática permitiu que os alunos vissem, com seus próprios olhos, como a nutrição adequada é fundamental para o desenvolvimento vegetal, conectando o aprendizado teórico com a realidade de um ambiente agrícola.

Essa abordagem educacional, ao proporcionar momentos de observação, coleta e análise de estruturas vegetais, não só combate a cegueira botânica, como também cria um ambiente de aprendizado mais dinâmico e engajador. Por meio da exploração direta do mundo das plantas, os alunos podem perceber a relevância desses organismos em suas vidas e no equilíbrio do meio ambiente, ampliando sua compreensão sobre o papel crucial das plantas na natureza.   

Referências:

  • Wandersee, J. H., & Schussler, E. E. (1999). Preventing Plant Blindness. The American Biology Teacher, 61(2), 82–86.

Por Kenya Malta – Professora de Ciências do Ensino Fundamental – Anos Finais

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