
Você já parou para pensar que o amor e a paixão seguem regras tão precisas quanto as leis da física? No século XIX, um brilhante físico chamado James Prescott Joule1 dedicou sua vida a provar que calor e trabalho eram formas diferentes da mesma coisa: energia. Suas experiências pavimentaram o caminho para a Primeira Lei da Termodinâmica — e, de certa forma, também nos ajudam a entender por que o amor nunca desaparece, apenas se transforma.
Pois é, até mesmo o coração mais apaixonado obedece às mesmas forças que mantêm as estrelas brilhando e os motores funcionando. A termodinâmica — aquela parte da física que estuda calor, energia e transformação — tem muito a dizer sobre como amamos, sofremos e nos renovamos.
Vamos explorar, juntos, essas conexões surpreendentes!
1. Primeira Lei da Termodinâmica: o amor é uma energia que nunca se perde
Na base da termodinâmica está um princípio tão fundamental que mudou para sempre nossa compreensão do universo: a energia não pode ser criada do nada, nem destruída — apenas transformada. Essa ideia, consolidada no século XIX por cientistas como James Prescott Joule, Hermann von Helmholtz2 e Julius Robert Mayer3, revelou que calor, movimento, luz e até mesmo a vida são manifestações diferentes de uma mesma grandeza universal.
Joule, em seus experimentos meticulosos, demonstrou que o atrito produz calor e que trabalho mecânico pode ser convertido em energia térmica. Foi como descobrir que moedas de ouro e notas de papel, apesar de formas diferentes, representam o mesmo valor. Esse é o cerne da Primeira Lei da Termodinâmica: um sistema pode trocar energia com o que está ao seu redor, mas o saldo total sempre se mantém.
E o que isso tem a ver com o amor? Tudo.
O amor como energia em transformação
Se o universo não permite que a energia desapareça, por que imaginaríamos que os sentimentos simplesmente evaporam? Quando amamos, investimos tempo, cuidado, emoção — e tudo isso é uma forma de energia afetiva. Um relacionamento pode acabar, mas o que foi construído nele não some no vácuo. Assim como o calor de uma xícara de café se dissipa no ar aquecendo o ambiente a sua volta, o amor que vivemos também se propaga e modifica o ambiente que ele alcança.
Até mesmo as decepções seguem essa lei. A dor de um coração partido não é o fim da energia amorosa, mas sua conversão em resiliência, em autoconhecimento, em novas formas de se conectar. Como diria Joule: “Nada se perde, tudo muda de estado” — e isso vale tanto para o vapor que move uma locomotiva quanto para as paixões que movem a alma.
Portanto, se hoje você sente que algo se perdeu, lembre-se: a física garante que aquela energia ainda está em algum lugar. Talvez não mais na forma que você esperava, mas pronta para se tornar algo igualmente belo.
2. Segunda Lei da Termodinâmica: o caos que torna o amor verdadeiro
Enquanto a Primeira Lei nos fala sobre a persistência da energia, a Segunda Lei da Termodinâmica introduz um conceito mais provocador: a entropia. Desenvolvida por mentes brilhantes como Rudolf Clausius4 e Ludwig Boltzmann5 no século XIX, essa lei revela que todos os sistemas naturais evoluem espontaneamente para estados de maior desordem.
Isso significa que, embora a energia sempre se conserve, ela tende a se espalhar de forma caótica e menos útil. Imagine uma xícara de café quente: com o tempo, sua energia que estava concentrada na bebida quente se espalha pelo ambiente de forma caótica, sem podermos controlá-la. Esse processo é irreversível – é a entropia em ação.
Entropia nos relacionamentos: a beleza na imperfeição
Se transferirmos esse princípio para o amor, chegamos a uma conclusão fascinante: nenhum relacionamento é imune ao caos. Assim como não podemos impedir que o café esfrie, não podemos evitar: mal-entendidos, mudanças ou dias com menos paixão. Mas aqui está o segredo: a entropia não é o fim – é o que torna o amor real. Relacionamentos perfeitos e estáticos só existem nos contos de fadas. Na vida real, é o esforço para reduzir a entropia, ou seja, a perda caótica de energia – através do diálogo, da reinvenção, da aceitação – que mantém a chama acesa.
Boltzmann diria que, em um universo que caminha para a desordem, criar ordem exige trabalho. É exatamente isso que fazemos quando reconstruímos a confiança (adicionando “energia emocional” ao sistema), reinventamos rotinas (como um motor que precisa de combustível novo para continuar funcionando) e aceitamos que o caos faz parte (assim como um jardim, que mesmo bem cuidado, sempre terá folhas secas).
A grande ironia? É justamente a luta contra a entropia que torna o amor mais forte. Quando superamos uma crise, estamos fazendo o que os físicos chamam de “trabalho contra a desordem” – e esse processo, por si só, gera histórias, profundidade e resiliência.

3. Terceira Lei da Termodinâmica: o frio nunca é absoluto
No início do século XX, o químico Walther Nernst6 revelou ao mundo um princípio fascinante: é impossível atingir o zero absoluto (-273,15°C), o estado teórico em que todo movimento molecular cessaria. Essa descoberta, que lhe rendeu o Prêmio Nobel, mostra que mesmo no frio mais intenso, sempre resta um mínimo de energia – um último suspiro térmico que resiste à imobilidade total.
Se transportarmos esse conceito para o amor, encontramos uma verdade comovente: nenhum coração esfria completamente. Assim como a natureza se recusa a aceitar a ausência total de movimento, nossos sentimentos sempre preservam algum resquício de energia, um carinho, uma memória afetiva e até mesmo o peso de uma dura cicatriz. É impossível a aniquilação total da energia de algo, é o que diz esta lei. Portanto, se hoje você sente que algo esfriou demais, lembre-se: segundo as leis do universo, um coração nunca para completamente. Ele apenas encontra novos equilíbrios – e às vezes, o que parece fim é só uma mudança de estado.
Conclusão: a física do coração
As leis da termodinâmica nunca foram sobre amor, mas o autor deste texto resolveu aproveitar o Dia dos Namorados para fazer você ler e aprender um pouco mais sobre as leis da física que regem nosso universo. Talvez, com liberdade poética, podemos pensar que ciência e amor compartilham a mesma essência: energia que se transforma, caos que ensina e um calor que nunca se apaga totalmente. Seja nas leis do universo ou nos batimentos do coração, a vida nos lembra que nada se perde – apenas se renova. Essa é a verdadeira magia que nos conecta.
💖 Feliz Dia dos Namorados! Que seu amor continue sendo a mais bela expressão das leis cósmicas.
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Por Rafael Pinheiro – Professor de física do Ensino Médio
- James Prescott Joule (1818-1889) – Físico britânico que estabeleceu experimentalmente a equivalência entre calor e trabalho mecânico, fundamentando a Primeira Lei da Termodinâmica. Seus estudos sobre conservação de energia revolucionaram a física do século XIX.
- Hermann von Helmholtz (1821-1894) – Médico e físico alemão que formulou matematicamente o princípio da conservação da energia, contribuindo para a unificação das ciências físicas.
- Julius Robert Mayer (1814-1878) – Médico alemão pioneiro na formulação qualitativa da equivalência entre calor e trabalho, antecipando conceitos termodinâmicos fundamentais.
- Rudolf Clausius (1822-1888) – Físico alemão que estabeleceu formalmente a Segunda Lei da Termodinâmica e introduziu o conceito de entropia como medida de desordem em sistemas físicos.
- Ludwig Boltzmann (1844-1906) – Físico austríaco que desenvolveu a interpretação estatística da entropia, conectando o comportamento microscópico das moléculas com propriedades macroscópicas.
- Walther Nernst (1864-1941) – Químico alemão premiado com o Nobel de Química (1920) por formular a Terceira Lei da Termodinâmica sobre o comportamento da matéria próximo ao zero absoluto.